Joguei praticamente tudo que Call of Duty lançou nas últimas duas décadas. Acompanhei os altos e baixos da franquia, sempre reservando um espaço na minha rotina para os novos lançamentos. Não era só por nostalgia, mas porque, por muito tempo, COD foi sinônimo de criatividade e experiências multiplayer que marcavam presença a cada novo ano. Porém, essa realidade mudou, e dá pra ver quando isso começou.
Quando Vince Zampella deixou a Activision e trouxe sua visão para a EA e para a Respawn, algo se perdeu no coração criativo da série. Call of Duty continuou a ser um sucesso comercial, mas a essência que dava vida a cada campanha começou a se esvair. Black Ops 7 é o exemplo perfeito disso. O jogo é imenso, barulhento e repleto de modos, mas, ao mesmo tempo, é surpreendentemente frágil nas áreas onde a franquia costumava brilhar.
### As Primeiras Impressões
Logo de cara, já dá para sentir que Black Ops 7 carrega o peso do seu desenvolvimento apressado. O jogo nasceu em um contexto atípico, com a Treyarch tendo que se desdobrar para lançar dois Black Ops consecutivos. Com várias equipes entrando e saindo do projeto, tudo parece feito às pressas, como se estivessem apenas cumprindo tabela. O resultado? Um jogo que tenta impressionar pela quantidade, mas deixa a desejar na qualidade.
A interface é confusa e sobrecarregada, cheia de menus e sub-menus que só dificultam a navegação. A sensação é que o jogo quer te empurrar tudo ao mesmo tempo: modos de coop, Zombies, PvP, passes de batalha… mas não consegue oferecer uma experiência realmente refinada em nenhum desses aspectos. É como se várias ideias desconexas tivesse sido jogadas juntas na esperança de que funcionassem.
### A Campanha: Um Desastre
Se tem algo que define Black Ops 7 — e não de forma positiva — é a campanha. A Treyarch tentou transformar o modo solo em uma experiência cooperativa para quatro jogadores, mas o resultado é uma das campanhas mais fracas que já vi na série. Os níveis parecem ter sido montados às pressas, misturando partes de Black Ops 2 e cenários reaproveitados. Nada se encaixa, nada tem ritmo ou personalidade.
A narrativa, que poderia ser um diferencial, acaba sendo ainda mais frágil. O jogo tenta desesperadamente resgatar um vilão antigo, mas acaba se perdendo em reviravoltas pouco convincentes. O formato cooperativo acaba travando a experiência, com cutscenes que obrigam todos os jogadores a assistirem longas cenas sem conteúdo. Em muitos momentos, a melhor estratégia é simplesmente ignorar os inimigos, porque a inteligência artificial parece mais interessada em existir do que em realmente desafiar os jogadores.
### Modo Cooperativo e Endgame
O modo cooperativo e o endgame são um paradoxo curioso. Eles têm potencial, mas estão presos a tudo que deu errado antes. A ideia de uma campanha projetada para quatro jogadores, com habilidades sincronizadas e objetivos compartilhados, poderia ter sido um respiro criativo. Mas, na prática, as missões raramente exigem cooperação real. Cada jogador acaba correndo para um lado, sem qualquer coordenação.
O endgame, por outro lado, é onde Black Ops 7 finalmente parece respirar. O modo de extração em Avalon traz uma experiência mais divertida e recompensadora, repleta de atividades paralelas e uma progressão interessante. Infelizmente, para chegar a esse ponto, o jogador precisa enfrentar a campanha decepcionante, que acaba desgastando a experiência.
### Multiplayer PVP: O Resquício do Antigo COD
O multiplayer PVP é onde a Treyarch jogou mais seguro. Ele não reinventa a roda, mas talvez seja isso que funcione. Voltando aos layouts clássicos de três rotas, os mapas são mais legíveis e menos caóticos. O gunplay se mantém consistente, proporcionando um fluxo de jogo mais ágil e menos frustrante.
Na minha primeira partida, senti um fluxo natural. O mapa novo me permitiu avançar e trocar tiros de forma fluida. O PvP funciona porque decidiu não tentar inventar demais. É uma experiência sólida, mesmo com alguns menus ainda confusos e poluídos.
### O Modo Zombies e o Uso de IA
O modo Zombies se destaca, mesmo quando o restante de Call of Duty parece cambalear. Black Ops 7 retorna ao formato clássico de rodadas, entregando o que os fãs esperam: desafios crescentes, ritmo acelerado e uma atmosfera envolvente. Mesmo que a narrativa esteja fora de foco, o modo funciona porque não depende dela para ser divertido.
Por outro lado, a utilização de arte gerada por IA em certos elementos do jogo levanta preocupações sobre a falta de originalidade. Em uma franquia que gera bilhões, usar ilustrações genéricas de IA em vez de trabalho artístico humano é um sinal claro de corte de custos.
### Problemas Técnicos e Irritações Gerais
Além de tudo isso, Black Ops 7 sofre com problemas técnicos que não deveriam existir em um jogo desse porte. A exigência de estar sempre online, mesmo na campanha solo, é frustrante. Se você parar por um tempo, o jogo te expulsa para o menu, o que é incompreensível em um modo narrativo.
A interface, confusa e carregada, dificulta a navegação, e há uma série de pequenos detalhes irritantes que se acumulam, como inimigos que aparecem do nada e cutscenes repetidas. Para um jogo que deveria ser um marco, tudo isso reforça a sensação de algo apressado e mal finalizado.
No final das contas, Black Ops 7 traz à tona uma série de questões sobre a direção da franquia. O multiplayer é divertido e o modo Zombies ainda tem seu charme, mas a campanha e a execução geral deixam muito a desejar. Cada parte do jogo parece lutar para se destacar em meio a um mar de decisões questionáveis. É uma pena ver uma série tão icônica enfrentando esses desafios.

